O x da questão
Essa semana realizou-se em São Paulo a 3a reunião do fórum "Time de Arquitetos da Copa". Marcaram presença todos os arquitetos autores dos projetos dos estádios que sediarão os jogos da Copa 2014, com exceção de Rio de Janeiro e Fortaleza. Vários temas foram discutidos, trocas de informações sobre tecnologias, sustentabilidade ambiental, legislação urbana, e, last but not least, formas de evitar futuros "elefantes brancos". E é aí que a coisa encrenca.
Vou repetir o que tenho dito por vários anos, e muitas vezes mal interpretado. Arquitetos entendem de arquitetura. De elaboração de projetos arquitetônicos. Engenheiros entendem de engenharia. De construção e manutenção de estruturas. Parece óbvio mas não é. Ou pelo menos não tem sido aqui no Brasil.
Arquitetos e engenheiros, a priori, não entendem de modelos de negócios comerciais. Não entendem de estudos de viabilidade econômica. Não entendem de estratégias de marketing de arenas que propiciam receitas que embasam aqueles estudos.
E esse é o tal x do título do post. Como profissionais que não entendem dessas questões poderão solucionar o nosso maior problema que é a viabilidade econômica dos futuros estádios para que não se tornem elefantes inúteis ?
Temos ótimos arquitetos no Brasil, capazes de elaborar projetos arquitetônicos de alto nível. Possuímos engenheiros competentes e grandes construtoras capazes de executar com sucesso qualquer projeto, inclusive os mais sofisticados. Esse não é o nosso problema.
Nosso calcanhar de Aquiles em relação à Copa de 2014 é uma sucessão de equívocos, iniciada pela escolha política das sedes por parte da CBF, pois várias das cidades escolhidas não possuem massa crítica de futebol para viabilizar projetos de 50 a 70 mil lugares. Então se não possuem viabilidade porque os arquitetos embarcaram nessa canoa e tentam desesperadamente que esses projetos vinguem ?
Reparem meus queridos 6 leitores, que nenhum projeto, nenhum, apresentou estudos de viabilidade econômica. E porque ? Fácil. Porque vários deles seriam considerados inviáveis, o que deixaria os políticos interessados nas construcões, e a CBF, numa saia justa indesejável.
É claro que os escritorios de arquitetura não têm culpa, ou pelo menos toda a culpa. Eles são contratados e pagos para elaborar os projetos. Mas seria desejável que, no minimo, possuíssem em seus quadros profissionais capazes de analisar os projetos não apenas pela ótica da arquitetura, afim de que não só uma maquete hi tech seja apresentada, mas um projeto integrado, viável economicamente, e que efetivamente represente para o cliente uma solução, e não um problema futuro.
Temos uma oportunidade fantástica pela frente de renovarmos nossa infra estrutura de estádios de futebol, para os próximos 40 anos, mas não podemos sucumbir diante da tentação de repetirmos os mesmos erros da virada dos anos 60 para 70, quando o Governo da época construiu elefantes brancos por esse país afora, torrando recursos e iludindo os usuários.
Infelizmente esse espaço é modesto, e minha voz tem alcance curto.
Obs: Em complementação ao post, eu espero sinceramente que todos os projetos que optem pela utilização da linha de crédito disponibilizada pelo BNDES, sejam obrigados pelo banco a apresentar os estudos que comprovem a viabilidade econômica dos projetos. É o mínimo.
5 Comentários:
Belíssimo post Ricardo.
Aonde eu assino ?
Estou escrevendo um post para publicar no meu blog, também sobre essa questão.
Parabéns pelo blog.
abs,
Olá Ricardo,
Olá Romulo, beleza?
Ricardo, não posso concordar com tudo o que vc disse e devo acrescentar informações que talvez vc não possua.
Concordo que a priori arquitetos e engenheiros não possuem capacidade técnica para elaboração de estudos de viabilidade financeira, ainda mais de um estádio que é um tema bastante específico.
Dentro de um processo complexo como a viabilização de um estádio estão envolvidas diversas especialidades que vão dos primeiros croquis até o edificio operando passando por proojeto que são feitos ao mesmo tempo de arquitetura, instalações, certificações, estudos de multidões, trânsito, paisagismo, estrutural e claro a viabilidade financeira. a frente de tudo isso estão os clientes que no caso passam um briefing não muito específico cabendo então a um profissional gerenciar as disciplinas, nesse caso como tudo gira em torno do espaços destinados a fins especificos ou multiplos este gerenciamento de ações (legalmente inclusive falando) cabe ao arquiteto. Não é o arquiteto que diz se um estádi oé ou não viavel, mas alguem parte da equipe que diz como tornar um edificio como este viavel e o que deve ser demandado espacialmente, como instalações pedem áreas "x" para ar condicionado e afins, por exemplo, os profissionais "financeiros" passam o programa de necessidade que se incorporará ao projeto básico licitável. A equipe do mineirão por exemplo possui todos estes profissionais em sinergia e sim, apresentou um plano de viabilidade econômica para o complexo aprovado pela FIFA e agora está desenvolvendo um novo caderno para as novas demandas que surgiram e novas adpatações sugeridas e impostas pelo cliente.
Acho importante o questionamento e a discussão do tema por porte de todos!
Novamente parabéns pelo blog!
Bruno Pylro - Arquiteto e Urbanista
Bem, eu ja nao falo mais nada em qq site sobre a copa de 2014. Ate hj, nunca ouvi ninguem falar em usar as arenas como uma faculdade ou cursos de reciclagem profissional. Nadica.
Todos falam em shoppings como se um shopping la no fim do mundo fosse viavel.
Do jeito que a coisa vai, daqui a pouco a FIFA da a copa pra outro pais organizar. Seria uma vergonha e tanto.
Caro Bruno, obrigado pelo comentário, mas acho que estamos falando de coisas diferentes. Uma coisa são as diversas etapas de elaboração de um projeto arquitetônico, as quais vc citou as mais importantes. Outra coisa, são as etapas necessárias para a execução do projeto como um todo, desde sua concepção como modelo de negócio até o término da construção e início das etapas de operação. Dentro desse princípio (que não é meu,é academico), o início do projeto arquitetônico somente pode acontecer depois de cumpridas várias fases do projeto total. Não se começa um projeto de construção de qualquer coisa, pelo projeto arquitetônico. Os estudos de viabilização economica e de concepção lógica do projeto SEMPRE precedem o projeto arquitetõnico, pois serão eles que nortearão o mesmo. Em relação ao Mineirão, talvez alguma informação veiculada pela mídia tenha me escapado, mas é um projeto que ninguem que eu conheça sabe de detalhes. Quanto custará ? Quantos lugares e camarotes terão ? que tipos de facilidades serão agregadas ao projeto ? o pay-back se dará em qto tempo ? Para mim é um mistério. A verdade é que aparentemente, todos os projetos apresentados e aprovados pela FIfa em 31/05 último foram de mentirinha, pois quase todos já foram substancialmente alterados e poucas informações seguras foram divulgadas. Prazos de licitação ? Mistério. Concepção final ? Mistério. Fontes de financiamento ? Mistério. Veja bem Bruno, não estou colocando sobre os ombros dos escritórios de arquitetura a responsabilidade sobre isso, mas o post foi uma crítica geral sobre como esses projetos vem sendo conduzidos pelos responsáveis por suas execuções. Abs.
Olá Ricardo,
Essas dúvidas permeiam a imaginação de todos. Entenda, é muito difícil responder quaisquer dessas perguntas, quando se fala, torna-se pedra, não tem volta. Não se respondeu quanto custará o projeto do Mineirão pq esta sendo finalizado o projeto básico para licitação, sem o qual seria um grande chute qualquer valor. Quando este valor tiver orçado, com pequena margem de erro, com certeza será divulgado!
Não foram entregues projetos para FIFA e sim planos conceituais, muito bem elaborados, dessa forma o termo “mentirinha” não se aplica, pois o conceito entregue a FIFA ainda é o mesmo, mas a medida em que se avança na atividade projectual, seja ela arquitetônica ou de viabilidade, o corpo vai se modificando e tomando ma forma mais sólida, real!!!
Nós, arquitetos envolvidos nessa grande empreitada sabemos da operação de um estádio e como é importante por exemplo que um estádio tenha “x” números de camarotes, número esse passado por uma equipe especializada, mas não se coloca simplesmente esse número e pronto tá lá! Deve se prover acessos diferenciados, suporte para essas áreas, conforma-las a exigências e normativas pertinentes, garantir que se enquadrem num desenho universal, rotas de fuga, e por ai vai, isso a equipe que estuda os aspectos de viabilidade não entende, o arquiteto resove!
Quando arquitetos se reúnem para discutir a viabilidade financeira destas arenas, mais do que qualquer coisa, é a troca de experiência de como trabalhar determinado caso, como adaptar de modo coeso tudo o que é debatido e demandado, sem prejuízo no produto final, não responder pelo processo ou mesmo estudo desta viabilidade, como no projetar não respondemos por um projeto elétrico, mas discutimos sobre ele e buscamos alternativas, que são novamente repassadas ao corpo técnico competente.
Também me sinto preocupado com o andamento de projetos para copa e olimpíada, mas no caso de arenas me coloco mais preocupado com o enorme número de projetos de estádios, que não abrigarão jogos da copa, sendo elaborados de maneira tão displicente, com projetos (os que eu vi pelo menos muito ruins) Me preocupo também com outros aspectos como obras viárias, aeroportos e serviços, estes sim me tiram o sono!
Abraços!
Bruno Pylro – Arquiteto e Urbanista
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