Proibir é sempre mais fácil
Duas medidas tomadas nos últimos dias chamaram minha atenção. A primeira da Federação Catarinense que, pressionada por recentes episódios de violência em alguns jogos do campeonato local, proibiu a venda e consumo de bebidas alcoólicas nos estádios. A segunda da Federação Paulista, que pressionada pelos mesmos motivos, proibiu, mais uma vez, a entrada de algumas torcidas organizadas nos jogos. Fazendo uma metáfora com a surrada piada, constatada a dor de dente, resolveram cortar a cabeça do paciente...
Quando comentei em meu post anterior sobre a tragédia em Criciúma, abordei essa questão e dei minha visão sobre o assunto. Me impressiona a falta de disposição das autoridades brasileiras em atacar as verdadeiras causas dos problemas. Imputar ao consumo de álcool responsabilidade por distúrbios nos estádios é tão antigo quanto amarrar cachorro com linguiça. Futebol é entretenimento. Como um show, um espetáculo qualquer. Achar que o sujeito bebe algumas cervejas e se transforma em Mr. Hide é tolice. No Reino Unido, por exemplo, há de tudo em termos de conduta relativa ao consumo de bebidas alcoólicas. Certos estádios proibem o consumo em seu interior, outros tb nas cercanias, outros permitem sem restrições, outros com restrições, outros permitem para futebol mas proibem para rugby, outros ao contrário. A proibição total fica mais restrita à Escócia, e que efetivamente ajudou a reduzir a violência depois da aplicação dessa medida. Por outro lado, temos um dado interessante. Na temporada 2003/04 da Premier League, para um público total de 29.197.510 torcedores, foram registrados apenas 599 casos de problemas relacionados com álcool. É muito pouco. Nas duas maiores tragédias ocorridas no futebol europeu, Hillsborough e Heysel, em ambas, as causas passaram longe do teor alcoólico dos torcedores. Acredito que uma pista para esse dilema, e que engloba a proibição das torcidas organizadas nos estádios brasileiros, está numa observação constante no guia normativo de segurança voltado para shows e outros eventos da Inglaterra. A grande inovação em sua redação, é que nele, a responsabilidade pela segurança dentro da arena não se restringe apenas ao gestor da mesma, mas tb ao próprio público. Sabem por que ? Porque na opinião de alguns sociólogos que compuseram a equipe que redigiu o código, "existem pessoas que buscam os conflitos de forma deliberada". Em bom português, tem muita gente que sai de casa afim de arranjar confusão. E aí, álcool, torcida organizada, o jogo em si, são apenas pretextos para brigas e violência. Reafirmo o que disse em post anterior. Com venda de ingressos controlada, all seated, cameras, informação, e legislação adequada ( com punições idem ), a possibilidade de conflitos de qualquer espécie dentro de um estádio é mínima. Com álcool ou sem. Com a presença das organizadas ou sem elas. Fora do estádio, já é uma outra questão, que reflete o comportamento geral da sociedade, pois o futebol, ou qualquer outro evento de massa, não é uma ilha de excelência em relação ao que presenciamos no nosso cotidiano. Mas convenhamos. Proibir é bem mais fácil.
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