Manifesto Olimpico
Meus 6 leitores devem ter estranhado o fato deste blog não ter postado nada durante o processo de escolha da sede olímpica de 2016.
Pensei em escrever sobre os benefícios de um mega evento, das ações que a sociedade precisa proceder para garantir que a execução do projeto se dê dentro dos princípios da legalidade e da transparencia. Mas desisti.
Depois do anuncio, e da ressaca, da escolha do Brasil para sediar as Olimpíadas de 2016, passei uns dias lendo sobre o assunto. A opinião de leitores de diversos blogs, de jornalistas, de autoridades, enfim, tentando captar os efeitos dessa escolha, e tentar responder uma pergunta. O que o povo brasileiro espera de uma Olimpíada ? O que deixará satisfeita a sociedade após o evento ? Sim, é a mais pura elocubração filosófica.
Leio os jornais e tento encontrar pistas. Pelo lado das autoridades e organizadores, enquanto o Ministério do Esporte intenta tomar as rédeas do evento e importar o "modelo australiano" (baseado em centros de excelência), o COB aparentemente não abre mão de comandar o show, e por seu turno, planeja importar o "modelo inglês" (parece que eles continuam não se entendendo). Pelo que entendi, o grande objetivo de ambos é ganhar medalhas. O presidente já deu o tom: temos que estar entre os 10 primeiros no ranking de medalhas em 2016. Questão de orgulho nacional.
Pelo lado da população, dificil saber ao certo o que ela quer. Ou o que queremos, afinal nós tb fazemos parte dessa grande e heterogenea entidade chamada "povo". Me socorro mais uma vez dos jornais para encontrar pistas. Leio declarações de defensores do "modelo americano", que precisamos nos tornar uma potência olímpica, à semelhança da pátria de Obama. Ou seja, muitos querem exatamente isso. Medalhas. isso é o que importa. E olhando por esse lado, povo e governo estão afinados. Todos querem medalhas. A falta dessas, a Olimpíada seria um fracasso.Leio tb que grande parte do povo, principalmente os que foram contrários a que o Brasil sediasse o evento, clama por mais hospitais. E numa outra nota, leio com espanto que ja existem mais farmácias que padarias no país !!! Não é assustador ? Vendemos mais remédios que pão, no Brasil. E é o conjunto dessas notícias que me preocupa. Mostra que começa a se instalar na sociedade a cultura da doença e não da saúde. Porque hospital não promove saúde, apenas trata de doenças. Ao mesmo tempo essa mesma sociedade se enche de remédios, porisso tantas farmácias. Seria tão bom que a população ao invés de tantos remédios clamasse das autoridades mais acessos e espaços para a prática esportiva. Porque praticar esporte, além da inclusão social, da qual nosso país carece tanto, promove saúde, e promovendo saúde certamente consumiríamos menos remédios, e em consequência, demandaríamos menos hospitais.
Mas será que ganhar medalhas é o que realmente importa ? Será que nos tornarmos uma potência olímpica à la Estados Unidos é o melhor ?
Porque a nação do Norte, ao mesmo tempo que se destaca pelo número de medalhas olímpicas, se destaca tb como uma das populações menos saudaveis do planeta. São campeões de natação e de obesidade. De basquete e de sedentarismo. De atletismo e de hipertensão. De basebol e de doenças do coração. Não é curioso ? O "modelo" mais desejado pela nossa população, e com objetivos tão afinados com os do Governo, é aquele que privilegia as medalhas em detrimento da saúde.
Eu entendo que está na hora de rediscutirmos isso. Está na hora de definirmos, antes mesmo de qual a política esportiva mais indicada a ser implantada, entendemos esporte como apenas um meio de ganharmos medalhas, ou se o utlizamos como a melhor ferramenta para melhorar a saúde de nossa gente. Talvez a opção pela saúde em primeiro lugar, seja o embrião de um "modelo brasileiro", mais importante do que modelos americanos, australianos ou ingleses.
O debate está lançado.
3 Comentários:
Ricardo,
parabéns pelo post. Pela primeira vez vejo algo diferente sendo falado, seja a favor ou contra.
Grande abraço,
Guilherme.
Bem, eu vou dar meus pitacos. A nacao do Obama ganha medalhas pq o esporte faz parte da cultura dos americanos ENQTO JOVENS. Numa tipica cidade de 100 mil habitantes, ha uns 25 campos de futebol, ciclovias, quadras e mais quadras, centros de treinamento, academias maravilhosas e tudo o mais. Numa tipica cidade de 100 mil habitantes no pais do Lula nao tem nem campinho de varzea.
O que eu quero com as Olimpiadas? Quero que o Rio volte a ser O RIO.
Que seja um lugar mais seguro, com bom transporte, que atraia turistas. Que saiba capitalizar o evento pra atrair mais e mais visitantes. Mais vistantes = mais dinheiro = fim da decadencia.
Ganhar medalha pra mim e o de menos. E a cereja em cima do bolo. Mesmo pq, os esportes que mais dao medalhas sao os que menos dao grana. Quem vai pratica-los?
Uma observacao. Falam que a Olimpiada vai gerar elefantes branco. Discordo. Desde que os equipamentos sejam provisorios. As futuras arenas de peteca, pingue-pongue, levantamento de peso, lutas e outras modalidades podem ser facilmente convertidas em Centro de Eventos e Exposicoes.
E que eventos o Rio vai por lar depois das Olimpiadas? Ora, o Rio e sede da Vale, da Petrobras, da industria naval do pais. Evento e o que nao falta. Falta e trabalharem pra isto.
Pedro
Creio que a grande oportunidade de desenvolvimento, em todos os setores, no Estado do Rio é agora.
Governo e (principalmente) o mundo esportivo está querendo ver o que é e o que se tornará a cidade maravilhosa.
Por isso digo em meu blog que estão faltando aqueles que debatem sobre gestão esportiva. Por que a gestão esportiva não é somente fazer uma boa Copa ou Olimpíadas. É fazer uma região inteira ser privilegiada com as instalações que estes eventos podem trazer.
Excelente ponto de vista, Ricardo.
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