sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A armadilha da Copa

Caros leitores fiéis. Volto do feriado momesco e não resisto a comentar sobre a notícia de que a Fifa manteve sua avaliação sobre o Morumbi, classificando-o como apto apenas para jogos de menor importância na Copa de 2014, ao contrário do que os dirigentes do clube divulgaram dias atrás.
Para o assunto do post não parecer deslocado, recordo aos meus leitores um outro, de 26/08/09, titulado de "Absurdos da Copa 2014 II", em que eu comento sobre a forma como os dirigentes do São Paulo vinham conduzindo o assunto "reformas do Morumbi".
Pois 6 meses se passaram e nada mudou. Os dirigentes são paulinos continuam apostando que, por falta de opções, e pela inevitabilidade de que a cidade de São Paulo seja sede da próxima Copa no Brasil, eles irão "enrolar" as reformas necessárias a um ponto crítico tal, que "obrigue" a Prefeitura, o Governo estadual, o Federal, a CBF, e a Fifa, a rever as diversas exigências, relaxando-as claro, e de quebra oferecendo algumas vantagens que certamente envolverão o bolso do contribuinte.
Joguinho perigoso esse.
Para isso resolveu, em vez de partir sériamente para resolver os problemas do estádio, que são muitos, seja na busca de investimentos privados ou até desistindo do oferecimento do estádio e transferindo o problema para as esferas municipal e estadual (o que seria aliás bastante honesto),resolveu investir em ações fúteis de marketing, e táticas de contra-informações (esse foi um termo elegante que encontrei...).
Mas a verdade é que o clube e seus dirigentes caíram numa grande armadilha. Seduzidos pela oportunidade de consolidadem o prestígio angariado pelo clube nos últimos anos, dentro de campo e fora, sendo inclusive considerado como referencia de gestão no Brasil, o sucesso parece que subiu à cabeça dos cartolas, e essa mistura de ego e soberba empurrou o clube para a atual arapuca.
Os dirigentes certamente apostaram todas as suas fichas na repercussão positiva que ter o seu estádio como abertura e local de alguns dos mais importantes jogos de uma Copa do Mundo poderiam significar para o futuro do clube. Exposição mundial, valorização da marca, maiores patrocínios, aumento de torcida e de receitas em geral, e etc. E tome marketing. Entretanto os dirigentes do clube avaliaram mal algumas questões. Lançaram-se ao mar numa jangada pensando tratar-se de um transatlântico. Imaginaram que os recursos privados seriam fartos, mas a crise mundial mostrou que não seria bem assim. Sem os investidores privados, o que restou ? Pressão política para tentar convencer a Fifa a aprovar o estádio para a abertura apenas com um pouco de "blush" na velha estrutura, pressão para investimentos pesados do poder público que não necessáriamente são prioritários para a cidade, e pressão para que um eventual financiamento via BNDES seja efetuado de forma direta, sem intermediação do mercado, o que seria uma exceção inaceitável.
Assim, inebriado nessa ilusão, o clube aos poucos parece perceber que caiu numa armadilha clássica. Qual ?
Em dezembro de 2009, a Casual publicou um estudo sobre o endividamento dos clubes brasileiros. E para surpresa de muitos, o SPFC aparece como o mais endividado entre os grandes paulistas, com dívidas de R$ 143 milhões. Se equacionadas ou não, o estudo não entra no mérito. Mas é o número da dívida.
Agora meus leitores, façam as contas comigo. Imaginando que a essa altura do campeonato a única alternativa disponível de recursos é o BNDES, de quanto seria o valor do financiamento necessário para viabilizar o Morumbi para a abertura da Copa ? Arrisco, com poucas possibilidades de erro, que pelo menos R$ 250 milhões. Fizeram a conta ? Pois é, garanto que os dirigentes são paulinos tambem fizeram. Tomar esse empréstimo significa elevar a dívida do clube no médio prazo a estratosféricos R$ 400 milhões (em números absolutos, sem contar o carregamento da dívida), o que tornaria a gestão financeira do clube caótica, e comprometendo as finanças do clube por décadas.
Será que o orgulho de sediar a abertura da Copa e a maior visibilidade futura, compensam essa insanidade ?
Essa dúvida certamente tambem tira o sono dos dirigentes de Internacional e Atlético-PR.
O pecado de dar um passo maior que as pernas pode lançar no abismo 3 dos clubes atualmente melhor geridos do país.

Mas pelo menos os dirigentes colorados e rubro-negros levam a vantagem de não terem se imposto o peso de abrir a Copa.

10 Comentários:

Às 20 de fevereiro de 2010 às 12:29 , Anonymous Victor Brandão disse...

Imagino que a melhor solução para o SPFC seja abrir mão de receber a abertura, ou até mesmo jogos da Copa. O principal benefício de ser sede seria justamente trazer recursos privados para as reformas, o que não aconteceu. Então, não vejo motivos pra tanta insistência (e eu sou sãopaulino...)

 
Às 22 de fevereiro de 2010 às 14:51 , Blogger Novas Arenas disse...

Pois é Victor, a armadilha é essa. Sediar uma abertura e até mesmo uma semi-final de Copa do Mundo em seu estádio, é uma oportunidade fantástica. Mas será que isso compensa comprometer as finanças do clube por décadas ?

 
Às 22 de fevereiro de 2010 às 18:40 , Blogger Unknown disse...

O único probema da sua análise é que você não leu as notas do balança do São Paulo. Boa parte da dívida é referente ao governo que está negociado para ser paga atravé da Timemania. Essa parte da dívida deve ser expurgada da análise pois já tem o pagamento encaminhado. Portanto a dívida em relação ao faturamento não é alto. Pode analisar.

 
Às 22 de fevereiro de 2010 às 19:59 , Blogger Novas Arenas disse...

Rafa, valeu pela participação. Bem, sobre a dívida, o que precisa ficar claro é que ela existe. Ela está "equacionada" em 20 anos pela Timemania ? Eu não teria tanta certeza. Em 2008 a média mensal de apostas girava em torno de 5,5 milhões e em 2009 passou para 4,5 milhões. E continuam caindo. Sem falar que algumas regras mudaram recentemente (para pior). A Timemania, não como idéia, mas como loteria, como instrumento de amortização das dívidas dos clubes com o Gov. Federal é um rotundo fracasso. Em pouco tempo ela terá que ser completamente reformulada. Em 2 anos (10% do prazo) vc acha que o SPFC já conseguiu amortizar alguma coisa ? A resposta é: um valor ínfimo e muito abaixo do projetado. Portanto a dívida está lá. "Equacionada" até quando ? E o financiamento do BNDES é de somente 12 anos...vc realmente acha que a gestão financeira do clube seria fácil se esse empréstimo for tomado ? Eu acho que não seria. Abraço.

 
Às 23 de fevereiro de 2010 às 10:11 , Blogger Ords disse...

Olá!
você conhece o projeto (o mais atual) do Morumbi 2014? já teve acesso?
Não entendo qnd falam que o projeto é fraco, não atende as necessidades, etc... Pelo que pesquisei, ninguém teve acesso a ele. So vejo críticas e elogios mas nada específico, nada contundente. Só posso concluir que tudo não passa de jogo político, sem nenhuma questão técnica.
Se o Morumbi não é apto, oq dizer de TODAS as outras arenas?
Já a questão do endividamento, vc foi mto feliz na sua análise. Este ponto não foi citado por ninguém, e hj é o mais preocupante na minha opnião. Parabéns

 
Às 23 de fevereiro de 2010 às 12:31 , Blogger Novas Arenas disse...

Olá, ords. Vamos separar as coisas. Eu não sou contra o projeto de reforma do Morumbi. Eu não considero o projeto de reforma do Morumbi bom ou ruim. Eu nem entro nesse mérito. O que precisa ficar claro é que o Morumbi, SEM AS REFORMAS, tal e qual está hoje, não está apto a sediar uma abertura de Copa do Mundo e demais jogos de peso. E que para proceder essas reformas serão necessários recur$$$os que o clube visivelmente não sabe como obter. Minha tese é que o clube, que hoje desfruta de uma condição financeira bastante estável, no afã de buscar esses recursos comprometa o seu futuro por muitos anos à frente. Nada a ver com a qualidade do projeto apresentado. Abraço e obrigado pela participação.

 
Às 25 de fevereiro de 2010 às 14:23 , Blogger Bruno Assumpção disse...

Caro Ricardo,
Você esta sabendo do novo projeto de lei que prevê verbas para reestruturação de clubes de futebol? Acabei de ler e achei bem interessante, só que para ter direito aos recursos, o clube terá que se transformar em uma empresa. Será criado um Fundo, na qual, a repartição dos valores aos clubes será determinada pela apresentação de projetos, obrigatoriamente, terão que ser de investimentos. Não haverá recursos para o pagamento de despesas correntes e nenhum clube poderá receber mais do que 5% do orçamento anual do Fundo. O projeto é de autoria do senador Alvaro Dias (PSDB-PR). Abraço!

 
Às 25 de fevereiro de 2010 às 16:32 , Blogger Unknown disse...

Ricardo, na mosca!

Eu tenho uma expressão substituta a sua que fala em contra-informação.

Ela é a famosa MENTIRA!

Extendo um pouco sua crítia ao COL da cidade de São Paulo que abraça o Morumbi sem ao menos possuir alternativas, realizando assim uma gestão de alto risco para o projeto da cidade.

Diferentemente do Rio onde é fato a utilização do Maracanã, diga-se de passagem de propriedade pública o que no mínimo justifica os investimentos desta origem, aqui em São Paulo outras alternativas poderiam ser criadas. Locais e soluções existem, somente o COL não quer, "não sei porque", desenvolvê-las.

Abraço,
Claudio Baptista Jr.

 
Às 26 de fevereiro de 2010 às 14:30 , Anonymous Anônimo disse...

Ola, estou acompanhando o projeto de reformas aqui do Beira Rio e alem de tudo isso que voce falou e do endividamento, questao que vem sendo trabalhada pelo presidente do clube, temos um agravante : a questao da rivalidade grenal. Os politicos ligados ao gremio e que estao no comando das secretarias da copa do estado e da cidade (paulo odone e fortunatti) estao trabalhando forte nos bastidores para minar o projeto do BR e fortalecer o da arena gremista. Nao me surpreendo se porto alegre ficar fora da copa do mundo em virtude disso. Abraços

 
Às 26 de fevereiro de 2010 às 20:17 , Blogger Novas Arenas disse...

Bruno, acho esse projeto um equívoco total.
Cláudio, ou aparece outra opção viável, ou a única continuará sendo o Morumbi.
Rodrigo, o Inter não terá recursos para reformar o BR. Se tomar esse empréstimo vai penar.

 

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