sábado, 22 de março de 2008

Proibir é sempre mais fácil

Duas medidas tomadas nos últimos dias chamaram minha atenção. A primeira da Federação Catarinense que, pressionada por recentes episódios de violência em alguns jogos do campeonato local, proibiu a venda e consumo de bebidas alcoólicas nos estádios. A segunda da Federação Paulista, que pressionada pelos mesmos motivos, proibiu, mais uma vez, a entrada de algumas torcidas organizadas nos jogos. Fazendo uma metáfora com a surrada piada, constatada a dor de dente, resolveram cortar a cabeça do paciente...
Quando comentei em meu post anterior sobre a tragédia em Criciúma, abordei essa questão e dei minha visão sobre o assunto. Me impressiona a falta de disposição das autoridades brasileiras em atacar as verdadeiras causas dos problemas. Imputar ao consumo de álcool responsabilidade por distúrbios nos estádios é tão antigo quanto amarrar cachorro com linguiça. Futebol é entretenimento. Como um show, um espetáculo qualquer. Achar que o sujeito bebe algumas cervejas e se transforma em Mr. Hide é tolice. No Reino Unido, por exemplo, há de tudo em termos de conduta relativa ao consumo de bebidas alcoólicas. Certos estádios proibem o consumo em seu interior, outros tb nas cercanias, outros permitem sem restrições, outros com restrições, outros permitem para futebol mas proibem para rugby, outros ao contrário. A proibição total fica mais restrita à Escócia, e que efetivamente ajudou a reduzir a violência depois da aplicação dessa medida. Por outro lado, temos um dado interessante. Na temporada 2003/04 da Premier League, para um público total de 29.197.510 torcedores, foram registrados apenas 599 casos de problemas relacionados com álcool. É muito pouco. Nas duas maiores tragédias ocorridas no futebol europeu, Hillsborough e Heysel, em ambas, as causas passaram longe do teor alcoólico dos torcedores. Acredito que uma pista para esse dilema, e que engloba a proibição das torcidas organizadas nos estádios brasileiros, está numa observação constante no guia normativo de segurança voltado para shows e outros eventos da Inglaterra. A grande inovação em sua redação, é que nele, a responsabilidade pela segurança dentro da arena não se restringe apenas ao gestor da mesma, mas tb ao próprio público. Sabem por que ? Porque na opinião de alguns sociólogos que compuseram a equipe que redigiu o código, "existem pessoas que buscam os conflitos de forma deliberada". Em bom português, tem muita gente que sai de casa afim de arranjar confusão. E aí, álcool, torcida organizada, o jogo em si, são apenas pretextos para brigas e violência. Reafirmo o que disse em post anterior. Com venda de ingressos controlada, all seated, cameras, informação, e legislação adequada ( com punições idem ), a possibilidade de conflitos de qualquer espécie dentro de um estádio é mínima. Com álcool ou sem. Com a presença das organizadas ou sem elas. Fora do estádio, já é uma outra questão, que reflete o comportamento geral da sociedade, pois o futebol, ou qualquer outro evento de massa, não é uma ilha de excelência em relação ao que presenciamos no nosso cotidiano. Mas convenhamos. Proibir é bem mais fácil.

sábado, 15 de março de 2008

Parece que os elefantes vão continuar com a mesma dieta...

Segundo notícia de hoje, a prefeitura do Rio, atropelando e revogando o edital que ela mesma publicou na semana anterior, vai entregar a gestão do Parque Aquático Maria Lenk, e ao que parece também do Velódromo, ao glorioso COB (aparentemente preocupado com o abandono das instalações que podem manchar a candidatura carioca para 2016). Especulando sobre a capacidade de investimento do Comitê, que provavelmente recorrerá aos seus habituais parceiros, vcs acreditam que o COB irá colocar na conta de quem (o Papa já avisou que não vai segurar...) ???? Do BB, da Caixa, da Petrobrás, ou dos Correios ??? Façam suas apostas.

Números alarmantes

Foi divulgado essa semana que os custos com segurança visando os Jogos Olímpicos de 2012 em Londres, estão orçados, até agora, em alarmantes 600 milhões de libras !!!! E até lá esse valor deve aumentar. Participei de um congresso sobre segurança de arenas há alguns meses, e ficou claro que a grande preocupação dos profissionais da área é com a escalada infernal dos custos com segurança, principalmente com o fantasma do terrorismo e suas eventuais ameaças bacteriológicas, químicas e etc. Dentro desse cenário, o trinômio que provoca arrepios nos gestores é a necessidade de equipamentos com mais sofisticação tecnológica, os recursos humanos cada vez mais especializados, e os prêmios das apólices de seguros cada vez mais exorbitantes. Espero que por aqui, essa realidade do primeiro mundo nunca chegue, e continuemos preocupados apenas com vandalismo, violência de torcidas organizadas, e o velho e risível dilema de vender ou não vender bebidas alcoólicas nos estádios. Mais fácil de resolver, e muito mais barato.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Ainda a polêmica do gramado

No meu post de 3 de março, escrevi sobre os cuidados que um gramado natural requer, sendo ele parte fundamental na estrutura de uma arena esportiva. Usei o exemplo da recente reforma no Parque Antártica para ilustrar a relação delicada entre a conservação da grama para sua utilização esportiva, e por outros eventos. Alguns leitores do blog chamaram minha atenção para o fato de que a habilitação "multiuso" da arena impunha sua utilização em eventos que aumentassem o faturamento do equipamento, que isso seria o conceito de modernidade de gestão etc. Bem, tenho certeza que uma leitura atenta do texto possibilite compreender com clareza que, longe de ser contra os novos conceitos de uso e gestão de uma arena esportiva, muito pelo contrário, minha intenção foi a de alertar contra um limite que a natureza impõe, e que a prioridade deve ser, ou deveria ser, sempre a preservação para a utilização fim, seja ele o esporte que for, e não para shows musicais ou outros.
Bem, essa semana leio pelos jornais as polêmicas declarações do técnico Luxemburgo espinafrando o estado do gramado e a empresa que efetuou a reforma. Após a mesma, o gramado apesar de utilizado apenas em 2 jogos do Palmeiras, e 1 show de rock, já se encontra em mau estado. Em meio ao tiroteio verbal generalizado, o responsável pela empresa elegeu o grupo Iron Maiden como o vilão da história...
Acredito que esse infeliz episódio sirva ao menos para mostrar que imaginar a realização de inúmeros shows musicais ao longo da temporada, num campo de grama natural, é um doce delírio.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Os Elefantes

O barulho dos elefantes parece que está incomodando a Prefeitura do Rio de Janeiro. A Prefeitura precisava realizar um evento, e os elefantes seriam as principais atrações. Compraram os paquidermes, que não custaram barato, arrecadaram com o show, mas depois descobriram que manter elefantes custa caro. Concluíram que precisavam se desfazer deles, até porque cuidar de elefantes não é a expertise da Prefeitura. Decidiram então licitar os bichos. Depois do estádio olímpico, e da arena, a concessão/elefante da vez é o Parque Aquático Maria Lenk. A primeira tentativa de parceria com a CBDA não vingou. O foco agora são os grandes clubes do Rio, que possuem estrutura e tradição nos esportes aquáticos. Mas será que vale a pena investir na manutenção do equipamento, aluguel, obrigatoriedade de cessão para competições e contrapartida social, em tempos de recursos tão escassos ? Realmente à primeira vista não parece um grande negócio. O orçamento dos clubes é apertado, patrocinadores de esportes olímpicos não andam dando sopa por aí (Caixa, BB e Correios não vale né....), então, assumir um bicho desses parece ataque de vaidade de algum dirigente insensato. Se esse plano B não colar, o plano C seria oferecer a concessão para a iniciativa privada. Interessante isso. A primeira pergunta que me vem a cabeça é: Porque não trataram desse assunto antes da construção ? Da decisão de construir ao término do Pan passaram-se 5 anos, tempo mais que suficiente para estabelecer um modelo, licitar, alterar o projeto tornando-o mais atraente se fosse o caso, e definir o arrendatário. Dessa forma, já poderíamos ter o equipamento funcionando a todo vapor há pelo menos 6 meses. O comitê organizador da Olimpíada de 2012 em Londres, pode ter feito lambança no controle orçamentário, que já estourou várias vezes e ainda estourará mais, mas pelo menos já definiu quem vai cuidar dos elefantes no futuro. Uma das soluções encontradas para o estádio Olímpico por exemplo, que terá capacidade para 70.000 pessoas durante a competição, é sua redução para 15.000 lugares, já previsto no projeto, transformando-o em estádio de atletismo a ser administrado por um clube londrino que promoverá competições e ações sociais. Planejar a longo prazo é sempre o ideal, mas no nosso caso é preciso pensar com pragmatismo. O equipamento está lá, sub utilizado e demandando manutenção. Talvez uma boa saída fosse a formação de um consórcio entre a CBDA, um grande clube com marca e tradição, e uma empresa especializada em gestão, para captar patrocinadores e movimentar o espaço. O triste é que isso pode levar um certo tempo, e enquanto isso o Parque Aquático, que é uma referência no continente, não serve a propósito nenhum. Mas é aquilo...existe interesse do poder público em contratar profissionais que entendam de planejamento e gestão de arenas ? Desconfio que não.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Reflexão sobre gramados e conceito de multifuncionalidade

Existem aspectos na operação de determinadas áreas de gestão de arenas no Brasil, que me deixam perplexo. Um deles diz respeito a conservação de gramados. Acredito que, mesmo para um leigo, não seja difícil entender alguns conceitos básicos mesmo sem entrar em muitos detalhes. Existem tipos de grama adequadas para a prática esportiva, épocas específicas para plantio, os cortes mais indicados para o estágio da grama, o preparo do solo para que o piso não fique nem muito fofo nem muito duro, e etc. E tb que após o plantio a grama precisa de um tempo para se desenvolver. Pensei exatamente nesses conceitos a respeito da reforma do gramado do Parque Antártica. A época do plantio me pareceu estranha. Normalmente a melhor época (quando existe planejamento), é setembro. Do início do plantio até a reinauguração decorreram em torno de 45 dias apenas. Pelas imagens na TV o gramado apresentava algumas falhas dando a impressão que a mesma tenha sido precipitada. E é aí que quero chegar. Com uma reforma tão recente, e ainda visivelmente num estágio de consolidação, o clube realiza um show de rock em que 40.000 pessoas massacram o gramado por algumas horas. É certo que o espaço foi alugado há muitos meses atrás e que o clube precisa faturar. Hoje em dia se vc perguntar a um dirigente de clube de futebol no Brasil qual o sonho de consumo dele, a resposta quase certamente será: uma arena "multiuso" !!!
Mas qual o conceito de multiuso ? E a resposta já estará na ponta da língua. Um lugar em que o time possa mandar seus jogos, e o clube possa faturar com shows, e outros eventos, esportivos ou não. Bacana. Só que a maioria se esquece do básico. A finalidade principal da arena é a prática esportiva (no nosso caso o futebol), e a conservação do gramado precisa ser impecável. Em arenas onde a tecnologia de "campo deslizante" não existe, o faturamento com eventos alternativos precisa ser visto com muita cautela. Mesmo com o recurso de teto retrátil. A quantidade anual, e o intervalo entre os eventos deve ser muito bem planejado. Acreditar que num campo de grama natural o clube poderá realizar 20 eventos anuais, mais os jogos, é absurdo, pois o faturamento obtido não compensará os prejuízos técnicos e financeiros que acarretarão ao gramado. E vcs ? acham que o Palmeiras fez bem em alugar seu campo nesse momento ? A reforma foi bem planejada ?