sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Quando tudo sai errado...

A Federação de Futebol de Moçambique teve uma grande idéia. Já que a Copa de 2010 será na vizinha África do Sul, porque não atrair uma grande seleção para realizar o período de treinamentos pré-Copa no país ?
O plano: construir um estádio moderno, que seria o legado para o futebol local, receber o Brasil ou Portugal (aproveitando o idioma comum), incrementar o turismo aproveitando o enorme interesse que essas seleções despertam, e divulgar o país. Perfeito.
Só que Moçambique não conseguiu colocar nenhum desses conceitos em prática. Contraiu um empréstimo com a China de US$ 60 milhões, mas os obras atrasaram e o estádio provavelmente será inaugurado em dezembro de 2010. Sem estádio, viu o Brasil praticamente definir como sede a Cidade do Cabo (a sede mais distante de Moçambique), e com isso, quase sepultar o projeto. A alternativa seria um esforço sobre humano para antecipar o cronograma de inauguração e tentar atrair Portugal. Mas não é que os "patrícios" estão fazendo uma força tremenda para não ir a África ?

Esse é um belo aprendizado. Não bastam boas idéias pois de boas idéias o mundo está cheio. É preciso mais que isso. Para concretizá-las é preciso um bom projeto, de uma competente gestão do mesmo, e claro, um pouco de sorte também.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Copa 2014: Carta do deputado Silvio Torres

Segue abaixo transcrição de carta do deputado Sílvio Torres a respeito de vários assuntos ligados à organização da Copa 2014, e cujo conteúdo analisarei em um próximo post.
"Quando o presidente Lula assinou, no primeiro semestre de 2007, o caderno de encargos que permitiu à CBF (Confederação Brasileira de Futebol) apresentar a candidatura do Brasil a sede da Copa de 2014, o Estado brasileiro concordou com todas as exigências feitas pela Fifa (Federação Internacional de Futebol). Entre estas, garantir isenção tributária, de taxas e de impostos alfandegários, facilitação imigratória e direitos comerciais de exploração e proteção.
No nascedouro da candidatura, um discurso, recitado pelo presidente da CBF e ecoado pelo presidente Lula, assegurava que as obras de construção ou de reforma dos estádios seriam bancadas pela iniciativa privada. Que, além disso, poderia ser parceira em obras de infraestrutura. Discurso semelhante ao do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, formalizado após o Rio conquistar o direito de realizar o Pan de 2007. Que, como a Copa de 2014, não dependeria de aportes de verba pública.
Essa é uma história conhecida. Os Jogos do Rio custariam a módica quantia de R$ 400 milhões. A iniciativa privada bancaria as despesas. A sociedade herdaria um excepcional legado. Promessas vãs. O evento custou mais de R$ 4 bilhões. Os empresários do setor privado não meteram a mão no bolso. As contas foram pagas pelos governos federal, estadual e municipal. Ou seja, pela sociedade. E o legado do Pan é uma peça de ficção. Do ponto de vista social e esportivo.
Durante considerável período de tempo, cultivou-se a máxima de que a história só se repete como farsa. Não há muito, o presidente da CBF declarou que o governo terá de investir nas obras dos estádios. O presidente da CBF deu seu recado. Comunicou ao presidente da República que os gastos com o Mundial do Brasil serão suportados pelo governo. Porque sabe que os investidores privados não estão dispostos a arcar com um investimento bilionário de retorno duvidoso. Escolhida sede da Copa de 2006, a Alemanha investiu na organização do evento desde 2000. A partir daquele ano, destinou 3,7 bilhões de euros para construção e renovação de ruas e estradas. Já o governo brasileiro não oficializou, até hoje, um comitê interministerial para gerenciar a organização do evento; não informa quanto gastará com a organização; e, para agravar a situação, o Orçamento de 2010, enviado recentemente ao Congresso, não dispõe de nenhuma rubrica referente a Copa de 2014.
A despeito de o governo federal não ter dado, ainda, qualquer publicidade sobre os gastos que realizará com a Copa de 2014, o BNDES já está de plantão para emprestar dinheiro público. Tendo retirado do forno, um mês depois de o presidente da CBF ter comunicado ao Palácio do Planalto que se não fosse tomada essa providência seria complexo realizar o Mundial, um generoso bolo, de R$ 3,6 bilhões, para emprestar a governos estaduais e municipais para construção e reforma de estádios. Dinheiro que, na África do Sul, bancaria a construção de todos os estádios.
A benevolente decisão do governo, que fere de morte a pregação de que utilizaria o orçamento da União em obras em aeroportos, transporte e segurança pública, estipulou, para estados e municípios, cotas de R$ 400 milhões por obra. Apesar da reviravolta do governo em matéria de comprometimento financeiro com a Copa, entre o dia de hoje e o início da Copa das Confederações, em 2013, dispõe o Brasil de menos de quatro anos para realizar a quase totalidade das obras indispensáveis para o Mundial. Obras estimadas em mais de R$ 100 bilhões, a preços de primeiro de junho, segundo estimativa do Sindicato da Arquitetura e Engenharia (Sinaenco). Montante a ser gasto em mobilidade urbana, hospitalidade, segurança pública, energia, transportes, infraestrutura aeroportuária, acessibilidade, saneamento. Para um país como o Brasil, que convive com gargalos e estrangulamentos bilionários em matéria de infraestrutura e logística, constitui combinação explosiva a resistência do governo federal a dar publicidade sobre quanto custará a Copa de 2014; a submissão em curto prazo ao comunicado do presidente da CBF de que dinheiro público é imprescindível para as obras dos estádios; e a reconhecida falta de capacidade de endividamento por parte das administrações estaduais e municipais. Dessa combinação de incompatíveis elementos químicos, é previsível uma única reação. Em tudo semelhante à que ocorreu quando se constatou que o setor privado não bancaria a organização dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Ao tomar posse, em janeiro de 2011, o novo presidente da República herdará mais um compromisso do governo Lula. Que poderá obrigá-lo a abrir as torneiras do cofre público para bancar a Copa de 2014.
O tamanho da conta não sabemos. Mas é fundamental que, desde já, a sociedade brasileira se mobilize para evitar um novo festival de gastos públicos suspeitos ou desnecessários."
*Silvo Torres é deputado federal (PSDB-SP), e presidente da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados.

A vez das mulheres

Nesse momento em que festejamos a presença, mesmo que fugaz, da melhor jogadora de futebol do mundo no Brasil, chega uma notícia interessante da Inglaterra.
O Nottingham Forest planeja construir um estádio que seria o "Wembley feminino". Empolgado com recentes quebras de recordes de publico, quase 25.000 pagantes e o dobro do publico da final de 2007 da FA Women`s Cup, Nottingham pretende construir uma arena para 45.000 pessoas, se a Inglaterra for escolhida para sediar a Copa 2018 (podem apostar que será).
O que se pretende é fazer dessa nova arena uma referência tão importante para o futebol feminino como Wembley é para o masculino.
Talvez seja um devaneio, mas, de qualquer forma, é auspicioso para o desenvolvimento do futebol feminino, e quem sabe, para a formacão de novos consumidores do produto futebol.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Uma luz no fim do túnel




Cuiabá divulgou detalhes do novo projeto do estádio que sediará os jogos da Copa 2014 na cidade. Novo, porque o projeto analisado pela FIFA e que respaldou a escolha de Cuiabá, foi substituído pelo atual.

E eis que esse se revela surpreendente. O projeto prevê a redução da capacidade da futura arena de 42.500 lugares para 28.000.

Os poucos leitores deste blog acompanham minha cruzada em defesa deste tipo de solução como forma de minimizar o tamanho dos elefantes. Cidades como Cuiabá, Manaus e Brasília, não comportam arenas acima de 40.000 lugares, principalmente dentro do modelo "apenas um estádio de futebol".

Já há alguns anos existe tecnologia disponível e acessível na construção e montagem de arquibancadas removiveis, com chapas pré-moldadas e aparafusadas, com excelente acabamento, chamada "steel framing". Normalmente os projetos preveem ou um segundo anel de arquibancadas removíveis, ou as arquibancadas atrás dos gols.

Espero que o exemplo de Cuiabá seja seguido.

Acima, as imagens liberadas do projeto, mostrando no alto a arena com formatação total, e embaixo a mesma na versão já reduzida.






segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Déficits na África do Sul

Semana passada foram divulgadas informações preocupantes sobre 2 dos novos estádios que estão sendo erguidos para a Copa 2010.
O Soccer City, em Johannesburg, que abrirá e encerrará a competição, e o Green Point, em Cape Town, estão sendo afetados pela crise econômica que se abate sobre as duas cidades, já que as arenas estão sendo financiadas em 100% pelos tesouros públicos.
O custo do Soccer, inicialmente orçado em US$ 310 milhões, saltou para US$ 440 milhões (ajuste de 42%), enquanto o segundo saltou para US$ 592 milhões (praticamente o dobro do custo orçado inicialmente).
Em ambos os casos, as municipalidades se esforçam em obter empréstimos adicionais para cobrir esses déficits e garantir a conclusão das obras. No caso específico de Cape Town, o porta-voz da prefeitura explicou que o custo total da arena será financiado em 30 anos, e coberto através do arrendamento do espaço para um gestor privado, da bilheteria da copa 2010, da venda dos naming rights a um patrocinador, e de fundos públicos federais e da província.
Bem, já que em 2014 será a nossa vez, o cardápio está servido. Alerto que apresentei o caso particular de apenas 2 das arenas. Existem outras 8.
Para vcs, a causa dos déficits foi:
a) Incompetencia de gestão
b) Desvio de verbas
c) Conjuntura mundial
d) Normal (todos os mega eventos da história passaram por isso)
e) Todas as anteriores
f) Nenhuma das anteriores

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A perda do foco

O presidente da CBF concedeu entrevista ao "Arena SporTv" ontem. Quero comentar apenas a respeito de um comentário feito por ele, e que embute um conceito errôneo.
A certa altura da entrevista, o presidente diz que é fácil saber como as novas arenas deverão ser construídas no país nos próximos anos. Basta ler os encargos da FIFA e seguir a cartilha. Fácil.
Mas nada é tão fácil.
Acima de tudo, precisamos renovar nossa infra estrutura de arenas destinadas a futebol que está sucateada. E essa renovação precisa contemplar fundamentalmente novos conceitos de conforto (para torcedores, atletas e demais profissionais), e segurança. A Copa deve ser vista como o "mote" para essa renovação, mas não como sua finalidade. Proceder essa renovação que irá vigorar pelos próximos 30/40 anos apenas seguindo a cartilha da FIFA é um erro grave.
E porque ? Porque na cartilha o foco são os requisitos que uma arena precisa ter para sediar um jogo de Copa, que tem duração de apenas 1 mês. Na cartilha existem exigências e recomendações. A cobertura, por exemplo, é recomendação, não exigência. Haverão estádios na próxima Copa parcialmente descobertos. A cobertura é um ítem que pesa no custo final, e porisso a FIFA não a coloca como exigência, para que o custo seja menor. Então pensando assim, poderíamos construir nossas novas arenas sem cobertura, e baixar sensivelmente o custo final dos investimentos. E condenaríamos nossos torcedores a assistir jogos embaixo de chuva por várias décadas, quando um novo ciclo de renovação se iniciasse. Não podemos perder a oportunidade única que se oferece de um importante "up grade" em nossa infra estrutura, apenas pensando na Copa. Muito além de ler cartilhas, precisamos pensar a longo prazo.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A Lenda de Ganesha

Ganesha é o deus hindu mais reverenciado. Filho de Shiva e reconhecido por sua beleza, foi decapitado por este. Para agradar sua mãe, Parvati, Shiva prometeu recriar Ganesha, colocando no lugar da cabeça original a cabeça do primeiro animal que encontrasse na floresta. Encontraram um elefante.
Mas saibam que Ganesha tambem é reverenciado em Londres. Na capital da Inglaterra sua imagem é de um elefante em forma de estadio de futebol, de grande beleza e apetite.
Apelidado de Wembley, ele ainda vai custar aos cofres públicos cerca de 930 milhões de libras pelos próximos 15 anos (isso se novos refinanciamentos nao forem necessários).
Em 2008, primeiros 12 meses corridos de operação, acumulou pouco mais de 85 milhões de libras de prejuízo (pouco mais de 130 milhões de libras acumuladas de deficit desde que "renasceu"), e seus gestores continuam sem previsões sobre a possibilidade de inversão desse quadro sombrio.
Ganesha é o deus que tem a capacidade de remover os obstáculos. Mas em sua versão londrina, ele fracassou.

Esclarecimento

A respeito do meu post de ontem sobre sustentabilidade, a alguns, suscitou o sentimento de que me oponho a medidas que contribuam para uma melhor visão e implantacão de ações efetivas de sustentabilidade ambiental. Pelo contrário. Acredito que qualquer projeto, seja ele esportivo ou não, deve obrigatoriamente ser implementado obedecendo os conceitos de preservação do meio ambiente e racionalizacão dos recursos naturais.
Meu objetivo tem sido apenas o de alertar que, além da sustentabilidade ambiental, impõe-se necessariamente a sustentabilidade econômica.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Olha a Copa Verde aí gente !!!!

A palavra da moda agora é sustentabilidade. Portanto, teremos uma Copa com arenas sustentáveis, com emissão zero de carbono, com água reciclada e reaproveitada, materiais recicláveis, cinturões verdes, e movidos a energias limpas. Tudo politicamente correto e dentro do melhor marketing ambientalmente responsável.

Desde o início da candidatura do Brasil o slogan midiático era esse. A proposta seria a de pegar carona na "nova onda", o que justificaria de certa forma a escolha de cidades sedes até então inimagináveis. Assim, dentro do espírito vigente, teríamos que abrir espaço para uma sede no Pantanal, afinal, são 3 biomas (outra palavrinha bacana) diferentes. Além disso, teríamos que dar espaço a uma sede amazônica, com tudo de ecológico que esta palavra induz.
E assim foram escolhidas Cuiabá e Manaus. Nasceram meio como Ceci e Peri. Apareceram travestidas de referencias que embasam a estética "verde".
Só esqueceram de pequenos detalhes. Que em ambas não existe futebol. Em ambas, as médias de público oscilam entre 1.000 e 3.000 pagantes, até porque os clubes daquelas cidades não participam sequer da série B do campeonato brasileiro. Aí, depois de muitas voltas, retornamos à tal da sustentabilidade.
E percebemos que toda essa verborragia ecológica, esconde uma fragilidade difícil de contornar. Sustentabilidade ambiental, ok. Mas e a sustentabilidade econômica ? Já sabemos que não haverá capital privado interessado em parir esses elefantes verdes. Simplesmente porque, apesar de verdes, esses paquidermes comem muito, e mantê-los seria caro demais. Não é coincidência que nenhum dos projetos tenha apresentado estudo de viabilidade economica até agora. E nesses tempos de recursos públicos escassos, seria correto investir em elefantes verdes ? Acredito que não.
Espero que pensem bem, estados, municípios, políticos afoitos, e CBF, antes que o assunto vire galhofa, e a oportunidade de reestruturar nossa infraestrutura esportiva se perca.

Ainda outro dia, um amigo me perguntou se a Copa era "verde", porque estava orçada em dólar...

domingo, 6 de setembro de 2009

À milanesa

Circulam notícias que o dono do Milan e premier italiano, Silvio Berlusconi, estaria tentando vender o clube de Milão, a ninguem menos que Muamar Khadaff, presidente/imperador/dono da Líbia.
Como vcs se sentiriam sabendo que seu clube pode ser comprado por um sujeito desses ?
Apesar que o dono atual tb...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Verônica tem que morrer

Hoje eu vou pedir desculpas aos meia dúzia de abnegados que acompanham o blog, e mudar um pouco de tema. Mudo mas nem tanto, pois no fundo a questão central é o planejamento dos clubes. Ou a falta de.
Parodiando o livro de Paulo Coelho (e agora tb filme...), a frase que pensei de fato foi: O Fluminense têm que cair.
E tem que cair não porque torço contra, ou sinto antipatia pelo clube, ou qualquer argumento de natureza clubística.
O Fluminense cair significa a confirmação dos diagnósticos de todos os gestores esportivos do país. É uma questão de moral, da nossa sobrevivência. Afinal, se a diretoria de um clube faz o que faz, e não vou aqui listar os inúmeros desatinos cometidos, o resultado lógico é cair.
Mas se não cair, como ficaremos ? O Fluminense não cair significa um incentivo inestimável ao desvario. A diretoria do Flu se esmera. Parece que pegam um manual de gestão e resolvem acintosamente, só prá sacanear, contrariar uma por uma todas as ações indicadas.
Outro dia, conversando com um amigo, torcedor e sócio do clube, ele se queixava da gestão do clube. Em certo momento, nossa conversa tomou outro rumo e em meio a críticas dele à gestão cultural da cidade do Rio, eu perguntei:
- Mas o que vc tem contra a nossa secretaria de cultura ?
E ele para encerrar a discussão respondeu:
- Vc acha que eu colocaria uma médica para ser gestora de cultura da minha cidade ?
Com essa levantada, eu perguntei de imediato:
- Ué, mas vc não votou num cardiologista para gerir o clube que vc torce ????
A gente perde o amigo mas não perde a piada.