Terminou o campeonato brasileiro. Uma das coisas mais divertidas é ler as colunas e ver os programas de debates com os nossos especialistas em futebol. Com o tempo, a função do jornalista esportivo deixou de ser apenas a de informar, mas sobretudo, a de explicar porque as coisas acontecem de um jeito e não de outro. Quase que explicar o inexplicável. Fica divertido ler as teorias, as defesas e os ataques igualmente apaixonados entre "ponto corridistas" e "mata-matistas", enfim, opiniões que tentam se equilibrar no equilíbrio improvável do futebol.
Entre as teorias que viraram leis, quase uma receita de bolo infalível, está a relação de, digamos, "qualidades", que um clube precisa reunir para ser campeão brasileiro por pontos corridos.
Não pode mudar técnico no andamento da competição.
Não pode atrasar os salários dos jogadores.
Tem que ter "estrutura". CT de primeira, assim como recursos físicos e humanos.
Sem esses fatores aí de cima, pode dar adeus ao título.
Aí aparece um Flamengo e bagunça o coreto dos teóricos.
O Flamengo trocou de técnico, trocou a direção de futebol inteira, atrasou salários constantemente, apostou em jogadores datados, sua estrutura deixa muito a desejar, e ainda importou um imperador que, tal e qual seus predecessores romanos, é pródigo em loucuras.
Claro que de uma dezena de competições, até eu acredito que um clube nessas condições talvez consiga ter sucesso uma vez só.
Mas uma única vez que seja, já é suficiente para mostrar a magia de um esporte que seduz exatamente pelo flerte constante com o improvável.
E é aí que vem o mais divertido, pois os teóricos, surpresos, passam a elaborar teorias sobre o porque da exceção à regra, boa parte delas tão rasas que ofendem nossa inteligencia.
De repente, o técnico do time possui poderes quase mágicos, a estrutura não é tão ruim assim, e os salários estão em dia. Pronto, está explicado.
Esquecem que resultados muitas vezes não se explicam. Mas a grande maioria se recusa a responder "não sei", e se obriga a elaborar uma explicação deletéria que faça algum sentido. Esquecem que o futebol não se explica. A paixão por ele não se explica. Os desatinos que se cometem em seu nome não se explicam.
No fim, depois de tantos falsos profetas e teorias do apocalipse, ficamos com a sensação de que a razão está com aqueles simplórios que repetem que o futebol é uma caixinha de surpresas, ou como diria o filósofo-mor Nélson Rodrigues:
O campeão brasileiro de 2009 já estava escrito há 2 mil anos antes do nada.