Caros leitores fiéis. Volto do feriado momesco e não resisto a comentar sobre a notícia de que a Fifa manteve sua avaliação sobre o Morumbi, classificando-o como apto apenas para jogos de menor importância na Copa de 2014, ao contrário do que os dirigentes do clube divulgaram dias atrás.
Para o assunto do post não parecer deslocado, recordo aos meus leitores um outro, de 26/08/09, titulado de "Absurdos da Copa 2014 II", em que eu comento sobre a forma como os dirigentes do São Paulo vinham conduzindo o assunto "reformas do Morumbi".
Pois 6 meses se passaram e nada mudou. Os dirigentes são paulinos continuam apostando que, por falta de opções, e pela inevitabilidade de que a cidade de São Paulo seja sede da próxima Copa no Brasil, eles irão "enrolar" as reformas necessárias a um ponto crítico tal, que "obrigue" a Prefeitura, o Governo estadual, o Federal, a CBF, e a Fifa, a rever as diversas exigências, relaxando-as claro, e de quebra oferecendo algumas vantagens que certamente envolverão o bolso do contribuinte.
Joguinho perigoso esse.
Para isso resolveu, em vez de partir sériamente para resolver os problemas do estádio, que são muitos, seja na busca de investimentos privados ou até desistindo do oferecimento do estádio e transferindo o problema para as esferas municipal e estadual (o que seria aliás bastante honesto),resolveu investir em ações fúteis de marketing, e táticas de contra-informações (esse foi um termo elegante que encontrei...).
Mas a verdade é que o clube e seus dirigentes caíram numa grande armadilha. Seduzidos pela oportunidade de consolidadem o prestígio angariado pelo clube nos últimos anos, dentro de campo e fora, sendo inclusive considerado como referencia de gestão no Brasil, o sucesso parece que subiu à cabeça dos cartolas, e essa mistura de ego e soberba empurrou o clube para a atual arapuca.
Os dirigentes certamente apostaram todas as suas fichas na repercussão positiva que ter o seu estádio como abertura e local de alguns dos mais importantes jogos de uma Copa do Mundo poderiam significar para o futuro do clube. Exposição mundial, valorização da marca, maiores patrocínios, aumento de torcida e de receitas em geral, e etc. E tome marketing. Entretanto os dirigentes do clube avaliaram mal algumas questões. Lançaram-se ao mar numa jangada pensando tratar-se de um transatlântico. Imaginaram que os recursos privados seriam fartos, mas a crise mundial mostrou que não seria bem assim. Sem os investidores privados, o que restou ? Pressão política para tentar convencer a Fifa a aprovar o estádio para a abertura apenas com um pouco de "blush" na velha estrutura, pressão para investimentos pesados do poder público que não necessáriamente são prioritários para a cidade, e pressão para que um eventual financiamento via BNDES seja efetuado de forma direta, sem intermediação do mercado, o que seria uma exceção inaceitável.
Assim, inebriado nessa ilusão, o clube aos poucos parece perceber que caiu numa armadilha clássica. Qual ?
Em dezembro de 2009, a Casual publicou um estudo sobre o endividamento dos clubes brasileiros. E para surpresa de muitos, o SPFC aparece como o mais endividado entre os grandes paulistas, com dívidas de R$ 143 milhões. Se equacionadas ou não, o estudo não entra no mérito. Mas é o número da dívida.
Agora meus leitores, façam as contas comigo. Imaginando que a essa altura do campeonato a única alternativa disponível de recursos é o BNDES, de quanto seria o valor do financiamento necessário para viabilizar o Morumbi para a abertura da Copa ? Arrisco, com poucas possibilidades de erro, que pelo menos R$ 250 milhões. Fizeram a conta ? Pois é, garanto que os dirigentes são paulinos tambem fizeram. Tomar esse empréstimo significa elevar a dívida do clube no médio prazo a estratosféricos R$ 400 milhões (em números absolutos, sem contar o carregamento da dívida), o que tornaria a gestão financeira do clube caótica, e comprometendo as finanças do clube por décadas.
Será que o orgulho de sediar a abertura da Copa e a maior visibilidade futura, compensam essa insanidade ?
Essa dúvida certamente tambem tira o sono dos dirigentes de Internacional e Atlético-PR.
O pecado de dar um passo maior que as pernas pode lançar no abismo 3 dos clubes atualmente melhor geridos do país.
Mas pelo menos os dirigentes colorados e rubro-negros levam a vantagem de não terem se imposto o peso de abrir a Copa.