segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O dia da verdade

Hoje, se encerraria o prazo para a apresentação dos estudos de viabilidade econômica dos projetos das arenas selecionadas para a Copa 2014. Se encerraria, porque os prazos são dilatados tantas vezes que pode ser que seja prorrogado mais uma vez.
Imagino o desespero de certas cidades para tentar "fabricar" uma viabilidade que parece impossível de ocorrer.
Seria o momento ideal para reconhecer que a escolha de 12 sedes foi um êrro, assim como a escolha de algumas cidades sob o marketing dúbio de "Copa verde", e outros slogans enganadores.
Nesse caso, a sustentabilidade imperativa e obrigatória é a econômica, não a ambiental, que é desejavel sim, mas que se somente essa prevalecer, a única diferença é que construiremos elefantes verdes, e não brancos, o que não serve de consolo.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Os absurdos da Copa 2014 II

Por esses dias, o presidente do São Paulo F.C., apresentou o projeto de parceria para a implantação de um grande fitness center no estádio do Morumbi.
Declarou entre outras coisas, que isso era mais uma prova da qualificação do estádio para sediar a abertura da Copa 2014. Que isso tornava o Morumbi definitivamente um estádio moderno e a altura do que melhor existe no mundo.
O presidente Juvenal Juvêncio faz um perigoso jogo de morde e sopra. Primeiro rejeita qualquer crítica às condições do Morumbi, depois refaz o projeto e admite que o orçamento de reforma ultrapassará em muito os R$ 130 milhões orçados inicialmente, depois volta a afirmar que o Morumbi não precisará de dinheiro público pois afirma estar negociando com vários investidores privados, para em outro momento afirmar que sem o BNDES o SPFC não terá como reformar o estádio.
Agora volta a subir no salto com essa história do fitness center.
Vamos esclarecer isso. Dotar o Morumbi de um grande fitness center o torna melhor como equipamento, aumentando o mix de serviços ofertados ? Com certeza. Que isso dotará o clube de uma nova e lucrativa fonte alternativa de receitas ? Sem dúvida. Mas o que isso impacta na adequação do estádio aos encargos estipulados pela FIFA para sediar jogos de Copa e, principalmente, ser escolhido o palco de abertura da festa ?
Em absolutamente nada. Ter ou não ter um fitness center não capacita ou incapacita um estádio para sediar um jogo de Copa.
Isso é um factóide.
Ou o presidente adota outro tipo de postura, pé no chão, coloca a arrogância na gaveta, e admite com humildade que o Morumbi precisa de ajuda e de muitos recursos ( e que o SPFC não os possui), ou acabará deixando a cidade de São Paulo e sua população numa saia justa de grandes proporções.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Os absurdos da Copa 2014 I

Vamos iniciar uma pequena série de posts sobre alguns dos absurdos que venho presenciando nesse período que antecede a apresentação definitiva dos projetos das sedes.
Vamos iniciar pelo projeto da Nova Fonte Nova.
Li uma matéria recente, em que o governo da Bahia estaria pensando em "obrigar" os dois grandes times de Salvador, a não mandarem mais seus jogos nos estádios em que jogam atualmente, Barradão e Pituaçu, e compartilharem o novo estádio. Inicialmente pensei que se tratava de piada de mau gosto mas parece que é verdade. Pelo jeito a coisa vai ser na "marra".
Em termos de planejamento de um grande equipamento esportivo, no caso visando principalmente a prática do futebol, existem algumas regras básicas, que se não chegam a ser uma receita de bolo, são passos essenciais a serem observados dentro de uma sequência lógica de ações.
E definir quem se utilizará do equipamento depois de pronto, é um dos primeiros, pois além de garantir sua ocupação, será vital para determinação da viabilidade econômica do empreendimento.
Se o capital em jogo é público ou privado, tanto faz. A necessidade de sustentabilidade é igual.
No caso da Fonte Nova, parece que estão querendo imitar o caso do "Engenhão" e iniciar a construção pelo telhado. Primeiro constroi-se o estádio, investe-se uma fortuna, embasam-se os estudos de viabilidade na fé que o(s) clube(s) aceitem o que se pretende, e depois então, com tudo pronto, partem para negociar com os clubes (que são os agentes que irão dar algum sentido a todo o investimento).
Mas que diabo de planejamento é esse afinal ?
Negociar com os clubes que serão as âncoras do projeto é fator crítico. Tão crítico que enquanto isso não for definido, o projeto não se inicia. Precisa ser negociado com antecedência.
Um assessor do governo do estado declarou que "em algum momento teremos que conversar com os clubes". Em algum momento ? Depois que estiver pronto ? E se não toparem abrir mão de jogar onde jogam hoje ( por n motivos como custo de manutenção, valor de aluguel, divisão de receitas, etc) ?
Serão obrigados ? Chantageados ?
Quem é o consultor desse projeto (se é que existe) ?
É espantoso.

sábado, 22 de agosto de 2009

O papel do BNDES no futebol

Pelé sugeriu que o BNDES empreste dinheiro para os clubes do Rio.
O Governo federal liberou o BNDES para financiar as arenas da Copa 2014.
O São Paulo quer dinheiro do BNDES. O Inter e o Atlético Paranaense tambem.
O BNDES é um Banco de fomento de natureza pública, mas não é casa de caridade.
Financiar clubes de futebol, em tese seria um empréstimo convencional, com taxas, carências e prazos de pagamento definidos, como qualquer outro empréstimo.
Seria, se os clubes brasileiros não fossem clubes brasileiros.
Quem é o analista de crédito que liberaria milhões a uma instituição de natureza privada, cujos gestores não se responsabilizam pessoalmente pelas dívidas contraídas ?
Na hipotese nada improvável de inadimplencia, o BNDES recuperará esse dinheiro de que forma ?
Executando ? Confiscando bens ? Pedindo falência ?
Emprestar dinheiro público, e os recursos do BNDES são públicos, a clubes de futebol, é absolutamente irresponsável. É correr um risco altíssimo de jogar milhões em recursos, que poderiam ser utilizados em projetos mais consistentes, no ralo.
Que o papel do BNDES nessa historia não seja o de presente.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Grande Noruega !!!

A propósito do post anterior, uma notícia de hoje. O Valência fará um amistoso na Noruega hoje. Pois terá que jogar todo de branco e sem ostentar nas camisas (nem mesmo dos que sentarão no banco) o nome do patrocinador, uma das empresas de jogatina que estão dominando o patrocínio de camisas na Europa, e em particular, na Espanha.
Porque na Noruega é proibido apostar em internet, e portanto expor a marca de empresas do genero. Tal e qual as empresas tabagistas em vários cantos do planeta, inclusive no Brasil.
A UEFA acatou a restrição norueguesa e proibiu a publicidade do time espanhol.
Brava Noruega !!!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

O poder da jogatina

Já mencionei em post anterior, as preocupações crescentes em relação a origem do capital que inunda o futebol europeu, especialmente na Inglaterra. Entre outras fontes, uma das mais preocupantes é a advinda das apostas. Os torcedores apostam, os jogadores apostam, dirigentes apostam, árbitros apostam, e as empresas de apostas se multiplicam e tornam-se cada vez mais poderosas.
Aqui no Brasil os jogadores parecem cada vez mais seduzidos pela jogatina. Apostam fortunas em carteados privados e em sites de apostas. O sinal amarelo está ligado.
Essa semana, a Betfair fechou patrocínio com o Manchester United. A Bwin estampa sua marca em camisas ilustres. A Espanha, com futebol de orçamentos irreais e mirabolantes, e após a retração do mercado, abraçou de vez a jogatina. Viraram tábua de salvação. Olhem a lista abaixo.

Real Madrid = Bwin
Valencia = Unibet
Sevilla = 12Bet
Espanyol = Interapuestas
Atlético de Madrid = Finland`s Paf
Castelldefels = Sportingbet`s Miapuesta

A 888, outra gigente do setor, substituída no Sevilla, mira em novos alvos.

Os clubes silenciam sobre os valores envolvidos.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Vai ter aluguel ou vai ser na amizade ?

Outro dia fui abordado por um amigo a respeito de uma questão interessante. Como todos já devem saber, a partir de 2010 e por pelo menos duas temporadas, o estádio Olímpico João Havelange hospedará a maioria dos jogos dos grandes clubes cariocas. E todos os jogos entre eles.
E a pergunta foi: o Botafogo, que detém a concessão do estádio até 2027, receberá aluguel pela sua utilização ?
Bela pergunta heim.
Minha resposta foi: Não sei.
Será que vai haver pressão para que não haja a cobrança ?
Será que o clube vai abrir mão dessa excelente alternativa de faturamento ?
E outra perguntinha. O estádio Olímpico foi considerado pela Federação Carioca como inseguro para sediar os chamados clássicos, especialmente envolvendo o Flamengo, e o vetou para tal. E a partir do próximo ano ? O que mudou para que agora sejam permitidos ?

Esses são assuntos sobre os quais ninguem fala. Acho que está mais do que na hora da direção do clube vir a público e esclarecer.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Substituição

Quem disse que sub-sedes de eventos não podem ser substituídas ? O Comitê organizador da Olimpíada de 2012 acaba de contrariar essa crença (crença pelo visto apenas no Brasil...).
O Villa Park, estádio do Aston Villa, havia sido selecionado como a sede de futebol da cidade de Birmingham nas próximas Olimpíadas. Porém, como o Comitê organizador entendeu que o clube não conseguiu oferecer um nível de comprometimento suficiente, foi cortado, e outras opções serão examinadas. Ou outra alternativa na mesma cidade, ou até mesmo a indicação de outra cidade.
Fazendo um paralelo com a Copa 2014, no nosso caso existem projetos problemáticos e cidades problemáticas. Projetos de difícil execução mas em cidades viáveis. E cidades inviáveis, com projetos idem, pelo menos muitos dos apresentados no processo inicial (e vários deles já alterados, dando a impressão de terem sido de "mentirinha", apenas para justificar a indicação).
Como pelas nossas plagas, em que o fator técnico vem a reboque do fator político, a troca de sub-sedes parece uma realidade distante, mas será que o mesmo pode ser dito dos projetos das cidades ?
Poderia o Grêmio sonhar em se tornar o projeto de Porto Alegre ?
Ou o Coritiba virar o jogo e sonhar o mesmo para Curitiba ?
E São Paulo ? Como seria se o projeto Morumbi naufragar ?
Se a "bóia de salvação" chamada BNDES não emplacar, o que fará a CBF ?
Nuvens negras no horizonte.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Copa 2014: As máscaras começam a cair

Ontem foi um dia importante na contagem regressiva para a Copa de 2014 no Brasil. Importante porque finalmente a CBF oficializou o que muita gente já sabia e outros desconfiavam. Além da infra estrutura urbana das cidades sede, também a construção e reforma das arenas esportivas serão financiadas pelos diversos poderes públicos. Não sou o Galvão Bueno, mas isso eu já sabia.

Não que isso em si seja inédito. Afinal, todos os mega eventos organizados no mundo inteiro, são majoritáriamente financiados com recursos públicos. Uns mais outros menos. Os de características olímpicas muito mais que de esportes específicos, como futebol e rugby, por exemplo. Mas o dinheiro público sempre está presente no DNA de todo mega evento. Claro que sediar esses eventos trás inúmeros benefícios para as cidades e países que os sediam, e não preciso ficar aqui citando quais são. É certo também que todos os orçamentos estouram, todos mesmo.
Mas o que não precisamos é de ouvir historinhas.
Primeira historinha. A CBF negocia politicamente as cidades-sedes da Copa, mas para fugir do ônus político das escolhas, tenta nos convencer que as escolhas foram feitas pela FIFA. Aos descontentes, a desculpa singela. A escolha foi da FIFA...e assim, evita-se perder um eleitor.
Mas será que alguem acredita que a FIFA determinou que 2014 seria a Copa "verde" ? Que obrigatoriamente a capital deveria ser uma das sedes ? Ou que Manaus é mais adequada que Belém ? Mais fácil acreditar no curupira.
Segunda historinha. O governo vai participar apenas com as infras urbanas, e o capital privado arcará com a construção e reforma das arenas esportivas.
Na última terça, pelo menos essa segunda caiu por terra. O óbvio foi revelado. Cuiabá, Brasília e Manaus ? Só com muito dinheiro público (não importa de que esfera). Porto Alegre, Curitiba e São Paulo ? Só através de uma polpuda e generosa linha de crédito do BNDES. As outras 6 ? Talvez uma ou outra consiga engatilhar alguma PPP, dependendo da rentabilidade da praça envolvida, mas não tenham muitas esperanças.
E se não for assim, a Copa não sai. Aliás nenhum mega evento em lugar nenhum do mundo sai. Só não precisamos é de ouvir as historinhas.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Você gostaria de morar perto de um estádio de futebol ?

Sim, eu sei que o título é provocativo. Mas uma dica de resposta darei no fechamento do post.
Existem vários trabalhos acadêmicos sobre regeneração de espaços urbanos advindos da realização de mega eventos. Do mais célebre, Barcelona 92, ao mais recente, Londres 2012, eles apontam para algumas consequências que são comuns em todos os casos, e uma delas, é a valorização imobiliária das áreas no entorno dos equipamentos construídos. Assim, em um raio de pelo menos 3 km de um grande estádio ou arena, verifica-se uma expressiva valorização dos valores de aluguéis residenciais, ponto comerciais, venda de imóveis, e aumento no número de lançamentos imobiliários. Isso só não acontece nos casos de construções muito afastadas de áreas dotadas de infra estrutura, ou de projetos mal concebidos.
Isso me fez refletir, a partir do momento que passei a ler aqui e ali opiniões de pessoas que tem procurado minimizar as incríveis deficiências do projeto do estádio olímpico João Havelange (e estigmatizado por esse terrível apelido de "Engenhão"), em termos de modelo de negócio principalmente, com o argumento de que com o fechamento do Maracanã, se não houvesse o João Havelange, o futebol carioca estaria perdido. Ou seja, ele não é um elefante branco, e sim um projeto visionário.
Considerando que a indicação do Rio como sede do Pan, e a aprovação e construção do estádio aconteceram anos antes da indicação do Brasil como sede da Copa de 2014, e da consequente necessidade de fechamento do Maracanã para reformas, realmente os "pais" do estádio Olímpico foram de uma competencia quase divina. Um espanto em termos de planejamento.
E o que o assunto da valorização imobiliária tem a ver com isso ? Explico.
Outro dia conversando com um fã ardoroso do projeto do estádio, empolgado pela súbita e nova utilidade do mesmo em virtude das obras do Maracanã, ele me cobrava argumentos que comprovariam a minha convicção da inadequação do projeto. Eu então, revelei uma pequena pesquisa que tinha concluído com o objetivo de avaliar o impacto imobiliário que a construção do estádio havia causado no bairro do Engenho de Dentro. E exibi comparativos. Enquanto em Johanesburgo, a construção do novo Soccer City e a reforma do antigo Ellis Park, já causaram uma valorização do seu entorno respectivamente em 135% e 115% desde o início das obras, fato comum a todos os bons projetos semelhantes, o nosso pobre "Engenhão" não impactou em nada o pequeno bairro suburbano. Isso mesmo. Os imóveis simplesmente não se valorizaram nos últimos 4 anos, e em muitos casos sofreram desvalorização. Não houve aumento na quantidade de novos lançamentos, e os poucos em andamento procuram se localizar perto do Norte Shopping, e não do estádio. Segundo as imobiliárias locais, as pessoas que procuram imóveis no bairro pensam da mesma forma e evitam os imóveis próximos ao estádio.
Numa interpretação simples, é fácil constatar que enquanto o shopping é visto como um incrementador de serviços e lazer, aberto todos os dias, o estádio não oferece nada, abre apenas eventualmente, e é associado a barulho, desordem e confusão. Não acarretou melhorias na infra estrutura local, nas vias de acesso, ou na ampliação da estação ferroviária. Parece óbvio.
Assim, finalmente chegamos naquela dica de resposta que falei lá no início. O estádio olímpico, que dentro de um outro modelo poderia ser uma arena esportiva integrada a outros empreendimentos comerciais e de lazer, inclusive em outro local, no fim das contas, é apenas um estádio de futebol, que não acrescenta nada aos moradores locais, pelo contrário. Ser apenas um estádio de futebol, é justamente sua maior deficiência.
E aí, você gostaria de morar perto de um estádio de futebol ?

As imagens do Cornellá-El Prat


A foto acima mostra o interior do novíssimo estádio do clube Real Espanyol, o Cornellá-El Prat, inaugurado no último domingo. Entre outras conveniências, e através de parceria com a Mitsubishi, dispõe de 2 displays de alta definição Diamond Vision de 7,6 x 4,3m (e não os genéricos chineses de baixíssima qualidade que infelizmente ganharam o mercado brasileiro), 70 displays de 32" distribuídos por todos os espaços comuns da arena, e outros 20 displays de 42" que equipam os espaços Vip`s.
E um detalhe importante. Toda essa parafernália, assim como todo o estádio, é alimentada por painéis solares que disponibilizam cerca de 500 kW de energia limpa e renovável.